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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Quer pagar quanto?

Por Elvis Brassaroto Aleixo


           
A pergunta que intitula este artigo nos traz à memória um apelo publicitário que pode ser classificado hoje como um dos convites exponenciais ao consumismo desenfreado e desnecessário em nosso país. A nossa intenção não é filosofar sobre as teorias e práticas do segmento das vendas, do marketing, etc., todavia, é inegável que tais apelos produzem resultados lucrativos. É claro que para os consumidores que têm necessidade de determinado produto, decidir quanto querem pagar por ele é uma proposta bastante tentadora, apesar de sabermos que as coisas não funcionam exatamente assim. E o que dizer ainda das ofertas que propõem benesses gratuitas do tipo “pague duas e leve três” ou semelhantes? Estas supostas gratuidades são ainda mais apelativas e nunca passam despercebidas.


            Dívidas, dívidas e mais dívidas. No âmbito secular, todos nos empenhamos para honrar nossos pagamentos. Queremos nos livrar das dívidas. Entretanto, é curioso como na esfera espiritual os caminhos são diferentes. Ocorre um fenômeno! Os homens querem comprar o que não é possível à sua condição deficiente. Fazem questão de contrair uma dívida impagável. Querem negociar com Deus a salvação de suas almas, como se isso fosse possível, como se o ato redentivo fosse um mero produto a disposição em uma vitrine ou prateleira. Neste caso, porém, a moeda indicada à transação é diferente. Querem comprar a salvação por meio da aquisição de conhecimento e sabedoria humanas, da ioga e meditação, do ascetismo (abstenção de quaisquer tipos de prazeres), da autoflagelação, da observância de leis (especialmente a mosaica), da observância de rituais (especialmente o batismo), da filantropia (obras de caridade), da penitência e sacramentos, da resignação diante do ciclo de reencarnação (samsara, carma), da fidelidade exclusivista a uma determinada instituição religiosa, enfim... a lista é quilométrica.

O que nos chama a atenção é que grande parte desta tendência pode ser encontrada entre as inúmeras facções “cristãs”, isto é, entre aqueles que professam exercer fé nas Escrituras neotestamentárias. Esses grupos desmerecem e desqualificam a cruz de Cristo quando impõem aos fiéis normas religiosas para a salvação. É como se eles se colocassem na posição de consumidores e se candidatassem a responder à pergunta: “Quer pagar quanto?”. Cada um deles tem sua proposta. Mas a triste notícia é que nenhum deles consegue, com todo o seu esforço e às vezes até sinceridade, proporcionar a aquisição dessa grande bênção espiritual (a salvação), ainda que estejam seguros de seu êxito. Esta heresia é introduzida pelo inimigo de nossas almas de forma sorrateira e traz satisfação pessoal aos seus cultores. A salvação pelas obras é um dos estigmas mais patentes das seitas. Não há um grupo sequer que não detenha esta “cicatriz”.

A resposta capital sobre esta questão é conhecida dos leitores de Defesa da Fé. Conhecemos de cor (de memória) o texto bíblico áureo que se opõe à salvação por méritos humanos: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9). A clássica definição da graça divina é de que ela é um favor imerecido, entretanto, podemos ir além e acrescentar que este favor é demonstrado onde há absoluto demérito da pessoa que a recebe. Como disse Agostinho, “a graça de Deus não encontra homens aptos para a salvação, mas torna-os aptos a recebê-la”. Esta é sua essência. As obras revelam o caráter de nossa fé, mas não podem comprar nossa salvação. Quando as obras são meritórias para a salvação, a graça não pode atuar: “Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra” (Rm 11.6).

Temos um pequeno resumo explicativo acerca do assunto, escrito por Paulo, quando comenta sobre o pecado original (adâmico) e a reconciliação efetuada por Cristo, “o reino da graça”: “... Porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos [...] Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação. Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos. Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça; para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor” (Rm 5.15-21).

Lembremo-nos de que “nada que não seja gratuito pode ser seguro para os pecadores [...] A não ser que sejamos salvos pela graça, não poderemos absolutamente ser salvos” (Charles Hodge). Tomemos cuidado e estejamos sensíveis para não barganharmos tão grande salvação (Hb 2.3). Tudo já foi sacramentado (Jo 19.30), a cédula que nos era contrária foi invalidada e cravada na cruz (Cl 2.14) e não fomos comprados com coisas corruptíveis, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado (1Pe 1.18,19). Esta será sempre a nossa resposta à pergunta que intitulou este artigo.

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ARTIGO PUBLICADO ORIGINALMENTE EM: http://www.icp.com.br/73apologia.asp

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