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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sou obrigado a obedecer?

Por: Haroldo Reimer

              Muito se fala, hoje em dia, sobre submissão às autoridades. Sem dúvida, num mundo dado cada vez mais à anarquia, esta ênfase não é somente correta, mas necessária. Há necessidade de liderança, estrutura, ordem, e obediência para termos uma sociedade harmoniosa e pacífica

               Isto se aplica também à Igreja. Existe uma estrutura de liderança para a Igreja, que é definida nas próprias Escrituras, indispensável para o bom funcionamento do corpo de Cristo. Sem a liderança de pastores, presbíteros, bispos, etc., a Igreja não iria cumprir seu papel neste mundo.

                A Bíblia contém muitas exortações à obediência às autoridades. Em 1º Tessalonicenses 5:12-13 lemos: “E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam; E que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra. Tende paz entre vós”, e também: “Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo.” (Efésios 6:1); “Servos obedecei em tudo ao vosso senhor segundo a carne...” (Cl 3.22). E em Hebreus está escrito: “Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil.” (13:17).

                Porém, se alguem me perguntasse: “Deve o crente sempre obedecer ao seu pastor ou líder da igreja?” eu responderia: “Não! Nem sempre!”. Temos visto o surgimento de vários cursos , seminários congressos, etc., para treinar a liderança, mas pouco se fala sobre liderados. Se para ser é necessário prepararo e insturção, para ser um seguidor também é preciso preparo. Liderança com habilidade não é o suficiente para o bom andamento da Igreja, precisamos também de liderados idôneos. E uma boa parte desta idoniedade consiste em saber quando se deve e quando se não deve seguir a liderança.

               Em Atos 17:11 se lê: “Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.” Foram os missionários Paulo e Silas que levaram a mensagem até Beréia, e, embora sendo os dois “líderes famosos e importantes”, os crentes dessa cidade não “engoliram” tudo que foi ensinado pelos apóstolos sem que antes verificassem nas Escrituras se realmente eles falavam a verdade. Confirmado pelas Escrituras, eles aceitaram o ensino e, neste caso, desde que o ensino de Paulo era de fato fiel às Escrituras e havia idoneidade da parte dos bereianos, o crescimento da Igreja ali foi notável, com a conversão de muitas “mulheres gregas de alta posição e não poucos homens” (Atos 17:12).

                Mas o que acontece quando a liderança prega ou ensina o que náo está nas Escrituras? O liderado deve continuar seguindo e obedecendo à liderança?

               Obviamente que não! A Bíblia é a Palavra de Deus e, assim sendo, está sempre acima da palavra do homem, seja ele quem for. O “assim diz o Senhor” supera o “assim diz o homem” (mesmo quando este alega ter uma mensagem vinda de Deus – nota do blogueiro). O ensino claro da Bíblia não pode ser desobedecido, mesmo quando outras autoridades ordenem. Foi esta situação que Martinho Lutero enfrentou em séculos passados. A liderança da Igreja disse que ele debereia pregar a salvação do homem pelas obras e compra de indulgências. Deus, na Sua Palavra, disse que a salvação é um dom gratuíto que qualquer um poderá receber pela Fé, sem qualquer pagamento ou trabalho. Lutero, que havia examinado as Escrituras, desobedeceu às autoridades eclesiásticas e acabou sendo expulso da igreja.

               Esse tipo de caso repete-se hoje em dia. Em Atibaia, aqui bem perto de nós, um grupo de jovens foi convidado pelo pastor para cantar em um casamento que ele iria oficializar na igreja. O casamento era entre uma pessoa cristã e uma encrédula. Os jovens haviam estudado as Escrituras e sabiam que um casamento assim era proíbido por Deus(2º Co 6:14-18). Eles se recusaram a cantar no casamento. O pastor ficou furioso pela “indisciplina” e ameaçou-os com represálias. O resultado foi que os jovens, expulsos da igreja, formaram outra igreja que até hoje continua crescendo, enquanto a primeira vai declinando.

              Um formando nosso, ao assumir o seu primeiro pastorado, foi pressionado pelo bispo de sua paróquia a aderir a Teologia da Libertação, que é uma teologia anti-bíblica. Sua desobediencia resultou no seu afastamento da igreja e donominação a que pertencia. A liderança de uma das principais denominações do país tentou forçar todas as igrejas da denominação a usar a revista de Escola dominical preparada pela liderança da igreja. Todavia, o conteúdo da revista não era bíblico, e, consequentemente vários pastores e igrejas recusaram-se a usá-la, em desobediencia à liderança.

               Em todos esses casos a desobediencia às autoridades é justificável e, de fato, seria um erro muito grande obedecer em casos assim. Os líderes são humanos e podem errar. Seguí-los no seus erros somente aumenta o erro. É preciso fazer o que fizeram os bereianos, examinando as Escrituras como medida de avaliação, seguindo os que são fiéis à Bíblia e nos afastando dos que não são.

                Devo dizer que somente a Bíblia pode ser a medida quando o crente decide sobre o que se deve obedecer ou não. A desobediencia às autoridades é justificável somente quando a obediencia aos homens constitui uma desobediencia a Deus. Deve limitar-se somente às situações ou casos assim. E, outras palavras, se um líder der uma orientação contrária à Palavra de Deus, essa orientação não deve ser obedecida, mas a liderança desse líder deve ser respeitada e seguida em outras áreas. Isto porque todos somos falíveis. Todos podem errar em alguma coisa ou outra, e se a liderança for rejeitada simplesmente porque houve um erro, não teríamos liderança. O liderado deve fazer como fizeram os crentes de Beréia: examinar as Escrituras e, a luz da Palavra, tomar a decisão. A desobediencia debe ser como atitude certa, não com espírito de rebeldia, mas com espírito de fidelidade a Deus e amor para com os outros.

                Mas, o que deve fazer o crente quando, habitualmente, a orientação do líder não é bíblica, e ele não se sujeita à Palavra de Deus? Neste caso o crente deve deixar o seu líder, e se for necessário, sua igreja e até a sua denominação.

              Nos Estados Unidos, quando o liberalismo tomou conta dos seminários e os novos pastores saíram da escola salopando a autoridade das Escrituras, muitos cristãos, não tendo mais condições de obedecer a Deus e obedecer à liderança da igreja, saíram das suas igrejas e formaram outras. Muitas destas novas igrejas não se filiaram a nenhuma denominação. Ficaram livres, hoje, são a maior força evangélica nos Estados Unidos, as que mais evangelizam e enviam missionáios ao mundo inteiro. As denominações, via de regra (felizmente, há excessões) perderam seu vigor espiritual e a sua visão evangelistica. Continuam com a sua estrutura organizada, mas não crescem em númeors ou influência.

             A igreja no Brasil é, em grande parte, denominacional. A Liderança de algumas destas denominações está comprometidad com o liberalismo (que nega a absoluta autoridade das Escrituras) e com a Teologia da Libertação (teologia da prosperidade como conhecemos – nota do Blogueiro), que inverte o propósito da Igreja. O crente liderado, que é membro de uma igreja assim, deve sair dela porque não lhe será possível ser obediente a Deus e fial à sua igreja ao mesmo tempo. Estará sempre mal com o pastor ou mal com Deus. O melhor é sair e juntar-se a um grupo de crentes onde não haja esse conflito.

            O crente deve ser fiel à sua denominação e obediente às autoridade eclesiásticas, mas não cegamente. Deve estar examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas “são de fato assim”. E, à base desse exame, tomar as suas decisões.

             Haverá, sem dúvida, da parte do líder que se afasta da fidelidade às Escrituras um apelo muito forte à “fidelidade denominacional”; quem nasce católico debe continuar sempre católico, quem foi criado na Igreja Metodista deve ficar na Metodista, e assim por diante. Líderes das denominações e organizações querem manter íntegras as denominações, e não há nada de errado nisso.

               Quando eu era diretor da Organização Palavra da Vida, queria manter unidade, ordem e obediencia às autoridades desta organização. Mas o apelo a unidade do grupo é secundário em face da fidelidade às Escrituras. Os apelos a unidade encontrados na Bíblia referem-se ao Corpo de Cristo (Rm 12:5; 1ª Cor 10:17; Gal 3:28; Ef. 4:3; Fp 1:27), isto se aplica a um grupo, organização, igreja, ou missão somente à medida que os membros deste grupo são, também, membros do Corpo de Cristo. Caso contrário, a Bíblia não ensina união mas, separação (2ª Cor6:14-18; Ef 5:11; 2ª Tim 3:5).

              Deus pode, afinal, muito bem conduzir o Seu trabalho sem esta ou aquela denominação, organização ou missão. Há algumas centenas de anos atrás, as principais denominações evangélicas eram os Lollardos, os Waldenses, os Arnoldistas, os Henricanos, os Taboristas, os Humiliati, e os Boêmios. Onde estão hoje? Não existem mais, porém a Igreja de Cristo continua. Os Estados Unidos, país com maior índice de evangélicos (não vamos aos méritos destes evangélicos - nota do blogueiro), foi colonizado pelos Quakers, que predominaram em cena nos anos em que se constituía a nação. Hoje sobrevive um pequeno remanescente dos Quakers, algumas centenas de pessoas apenas. Mas o Evangelho continua. Se a Fidelidade à denominação fosse indispensável, o Evangelho, já há muito, teria morrido

          Deve-se obedecer às autoridades? Sim, à medida que estas autoridades permitem a obediencia à Suprema Autoridade. Além desse ponto, a desobediência é necessária, ainda que isto sigenifique punição, rejeição ou mesmo a morte.
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Trecho do livro: Cutucando o que as igrejas toleram e a Bíblia reprova.
 
Nota:
Reimer, Haroldo. Sou obrigado a obedecer?. In: Cutucando: o que as igrejas toleram e a Bíblia reprova/Haroldo Reimer. Porto Alegre: Actual, 2002. Cap. 07, p. 51-58.

2 comentários:

  1. Alegro-me grandemente pela dissertação que foi exposta sobre este assunto referente à obediência dos servos do Senhor relacionada aos líderes.
    Eu mesma fui alvo destas dúvidas no início da caminhada na fé, e sempre me questionei quanto até onde deveria concordar ou não com o pastor e demais autoridades eclesiásticas. Várias vezes fui até chamada de "rebelde" por discordar da visão pastoral em determinados assuntos, mediante a observação da Palavra de Deus.
    Agradeço ao Senhor por ter permanecido firme naquilo que Ele revelou-me pelas Escrituras, mesmo quando a maioria acomodou-se aceitando tudo sem questionar nem analisar à luz da Bíblia.Creio que nos dias de hoje há muitos cristãos sinceros que pensam ter que obedecer cegamente seu líder, sob pena de ser reprovado ou castigado por Deus.Infelizmente,muitos pastores usam a tática da ameaça para incutir suas ideologias dentro da Igreja, causando uma discórdia muito grande no meio do povo, já que as pessoas sentem-se desconfortáveis pela situação causada. Que Deus abençoe a todos.

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  2. este estudo foi bençao pois estou passando por issocreio que temos quer ter base biblica para a obediencia.

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