Por Alex Esteves
Quem é da minha geração e assistia a desenhos animados talvez lembre não só do Super-Homem, amplamente conhecido no mundo todo, mas também do Bizarro, uma figura que se apresentava como um arremedo do Super-Homem, com uma roupa semelhante e propósitos diametralmente opostos aos do heroi. Para quem gosta de Psicanálise, Bizarro seria o alter-ego do bom-moço.
Minha constatação é que existe um Super-Homem e muitos Bizarros espalhados pelo Brasil. O Super-Homem, todo certinho e com pretensos super-poderes, é um senhor que fala bonito, em tom suave, em horário nobre de televisão, e que tem como tema principal um conceito esdrúxulo de fé em Deus. Os muitos Bizarros estão nos Estados brasileiros e representam esse senhor, mas em seus programas televisivos ou radiofônicos exibem uma mensagem que parece um diferente da mensagem do Super-Homem.
Em Minas Gerais, onde eu morei por alguns anos, havia um desses Bizarros que a cada semana anunciava uma coisa nova: uma “estola sacerdotal”, uma “cruz com água sacrossanta e fluidificada”, uma “toalha de fogo”, objetos que seriam entregues a quem comparecesse às reuniões das sextas-feiras. O camarada, que se dizia “a maior autoridade em libertação no Brasil”, fazia um programa trash, com músicas tenebrosas, cujo volume aumentava para aumentar o suspense. Já o ouvi pedindo que os espectadores enviassem o número de seu sapato para receberem o “encaminhamento espiritual”, pois ele faria uma “prece”. Esse indivíduo bizarro, que tem nítida vocação para o humorismo, pedia que seus ouvintes colocassem uma garrafa perto do “aparelho receptor” a fim de conter o “cramulhão” (sic), sob pena de, em acontecer alguma coisa ruim, o pregador não se responsabilizar por nada.
Aqui na Bahia deparo com uma figura menos estranha, mas com práticas não menos bizarras. Ontem eu o vi oferecendo “a rosa do puxamento espiritual”, que, segundo ele, irá puxar para si tudo o que as pessoas tiverem de ruim em si mesmas. Será que o inventor disso tem em mente o bode expiatório da Lei de Moisés? Será que o fetichismo dessa turma chegou a tal nível de sofisticação teológica? Pode ser: eles são inventivos.
Alguém pode imaginar que esses camaradas são autônomos, mas não são. Eles são denominados “líderes estaduais” e representam o líder internacional, seu presidente, o Super-Homem, mocinho da história, bom comunicador, cujo ensino, embora cheio de heresias, até aparenta fundamentação bíblica.
Muitos crentes de boa-fé admiram o Super-Homem e ficam chateados quando o criticamos. São também esses crentes que não costumam tolerar os Bizarros, reconhecendo-lhes a bizarrice, por exemplo, no uso de objetos com supostos efeitos espirituais (fetichismo, pajelança).
Entretanto, quem cria os Bizarros é justamente o Super-Homem. Foi ele quem os concebeu, criou e deu ao conhecimento público. Um não vive sem o outro. E, para ser sincero, os Bizarros são o espelho mais fidedigno do Super-Homem, justamente porque a capa do Super-Homem esconde um repertório daninho que vai da Confissão Positiva à deificação do Ser Humano, da Teologia da Prosperidade ao personalismo.
O curioso é que em outro “desenho animado” com motivos parecidos o protagonista absoluto não criou propriamente Bizarros, mas um exército de seres robóticos que imitam seu sotaque, rouquidão e articulação das mãos. Mas esse é outro produto igualmente vendável...
***
Fonte: Blog do Alex Esteves
Minha constatação é que existe um Super-Homem e muitos Bizarros espalhados pelo Brasil. O Super-Homem, todo certinho e com pretensos super-poderes, é um senhor que fala bonito, em tom suave, em horário nobre de televisão, e que tem como tema principal um conceito esdrúxulo de fé em Deus. Os muitos Bizarros estão nos Estados brasileiros e representam esse senhor, mas em seus programas televisivos ou radiofônicos exibem uma mensagem que parece um diferente da mensagem do Super-Homem.
Em Minas Gerais, onde eu morei por alguns anos, havia um desses Bizarros que a cada semana anunciava uma coisa nova: uma “estola sacerdotal”, uma “cruz com água sacrossanta e fluidificada”, uma “toalha de fogo”, objetos que seriam entregues a quem comparecesse às reuniões das sextas-feiras. O camarada, que se dizia “a maior autoridade em libertação no Brasil”, fazia um programa trash, com músicas tenebrosas, cujo volume aumentava para aumentar o suspense. Já o ouvi pedindo que os espectadores enviassem o número de seu sapato para receberem o “encaminhamento espiritual”, pois ele faria uma “prece”. Esse indivíduo bizarro, que tem nítida vocação para o humorismo, pedia que seus ouvintes colocassem uma garrafa perto do “aparelho receptor” a fim de conter o “cramulhão” (sic), sob pena de, em acontecer alguma coisa ruim, o pregador não se responsabilizar por nada.
Aqui na Bahia deparo com uma figura menos estranha, mas com práticas não menos bizarras. Ontem eu o vi oferecendo “a rosa do puxamento espiritual”, que, segundo ele, irá puxar para si tudo o que as pessoas tiverem de ruim em si mesmas. Será que o inventor disso tem em mente o bode expiatório da Lei de Moisés? Será que o fetichismo dessa turma chegou a tal nível de sofisticação teológica? Pode ser: eles são inventivos.
Alguém pode imaginar que esses camaradas são autônomos, mas não são. Eles são denominados “líderes estaduais” e representam o líder internacional, seu presidente, o Super-Homem, mocinho da história, bom comunicador, cujo ensino, embora cheio de heresias, até aparenta fundamentação bíblica.
Muitos crentes de boa-fé admiram o Super-Homem e ficam chateados quando o criticamos. São também esses crentes que não costumam tolerar os Bizarros, reconhecendo-lhes a bizarrice, por exemplo, no uso de objetos com supostos efeitos espirituais (fetichismo, pajelança).
Entretanto, quem cria os Bizarros é justamente o Super-Homem. Foi ele quem os concebeu, criou e deu ao conhecimento público. Um não vive sem o outro. E, para ser sincero, os Bizarros são o espelho mais fidedigno do Super-Homem, justamente porque a capa do Super-Homem esconde um repertório daninho que vai da Confissão Positiva à deificação do Ser Humano, da Teologia da Prosperidade ao personalismo.
O curioso é que em outro “desenho animado” com motivos parecidos o protagonista absoluto não criou propriamente Bizarros, mas um exército de seres robóticos que imitam seu sotaque, rouquidão e articulação das mãos. Mas esse é outro produto igualmente vendável...
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Fonte: Blog do Alex Esteves
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