Genizah publica a carta de um membro da Bola de Neve respondendo às criticas nos artigos do site acerca da sua denominação, mas que termina por oferecer outras denuncias sobre a participação equivocada e lamentável da igreja Bola de Neve nas duas últimas eleições .
Freqüento o IBDN de S.Paulo há uns quatro ou cinco anos. Foi com tristeza que fiquei sabendo do episódio envolvendo o Pastor Gilson, mas parece que a Igreja tomou as providências necessárias afastando-o do ministério. Diferentemente do que pensa o articulista deste Blog, avalio que o desvio de conduta de um, entre dezenas de outros pastores, não compromete a Igreja como um todo. Entendo que tal fato, em breve estará superado, não abalará as estruturas da Igreja, mesmo porque o ex-pastor sempre foi um personagem secundário, mais conhecido como “o cunhado do...” ou “o esposo da...”.
No referente às questões teológicas, concordo que realmente existam no Bola ‘moveres” que causem certo estranhamento no meio protestante tradicional, entretanto tais fatos não se constituem em novidades que já tenham sido objeto dos estudos de Paulo Romero (http://www.mundocristao.com.br/autordet.asp?cod_autor=35) - um dos especialistas mais conceituados em Apologética e Eclesiologia Cristã do Brasil - e expostos em suas obras Supercrentes - O evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os profetas da prosperidade, Editora Mundo Cristão 1993 e de Evangélicos em crise - Decadência doutrinária na igreja brasileira, também da Mundo Cristão, datado de 1995. Para quem não as conhece, recomendo para leitura e reflexão.
Creio, portanto que os eventuais equívocos relativos às questões teológicas na Igreja Bola de Neve são naturais, compreensíveis para um ministério relativamente novo e que, caso existam, eles podem ser corrigidos com o tempo e amadurecimento no manejo da Palavra. Agora, existem na Igreja outros problemas que, no meu entender, são muito mais sérios podendo vir a comprometer sua credibilidade e até mesmo seu futuro.
Estou referindo-me às ligações perigosas da Igreja com o mundo da política partidária. Em duas oportunidades presenciei episódios preocupantes nesse campo: em 2008, por ocasião das eleições municipais de São Paulo e em 2010 quando das eleições legislativas, governanças dos estados e presidência da República.
Eleições Municipais de São Paulo - 2008
Nas eleições municipais de São Paulo em 2008, a Igreja lançou um candidato próprio a vereador pelo PSDB, um jovem segundo consta, parente do finado ex-senador Romeu Tuma. Para prefeito apoiou Geraldo Alckmin, atual governador de São Paulo, que na oportunidade concorria ao cargo de Prefeito. Logo no início da campanha, após um culto que versava sobre “a importância da participação política dos crentes nos rumos da nação”, o Apóstolo Rina declarou o “apoio da Igreja” aos dois candidatos, convidando-os a ocupar um lugar no púlpito, de onde foram apresentados e abençoados. Seguidamente, num ambiente previamente preparado pelo tema da pregação, do alto do púlpito Alckmin fez seu discurso pedindo votos, transformando-o, infelizmente, num palanque eleitoral.
Nada contra qualquer pastor que, como cidadão, individualmente venha a apoiar o candidato X ou Y; no entanto considero questionável que um ministro da palavra de Deus se utilize de sua investidura para impor o candidato de sua predileção à Igreja, expondo-a de tal maneira a ponto de permitir que seu púlpito se transforme em palanque eleitoral. Também não há nada demais em receber um candidato ou autoridade que venha a Igreja para prestigiá-la, mas, convidar um candidato para receber apoio e o prestígio da Igreja, constitui-se claramente num ato político de campanha eleitoral. Por acaso os fiéis são “massa de manobra” e as igrejas evangélicas “currais eleitorais”? Claro que não!
Estranhando o acontecido, quando questionei um querido e honesto líder de célula, sobre as razões do envolvimento da igreja nas eleições e sobre a escolha de Alckmin em detrimento dos outros dois candidatos (Marta Suplicy e Gilberto Kassab), dele recebi uma resposta, no meu entender, despolitizada e um tanto quanto ingênua. Literalmente disse-me “somos contra a Marta porque ela criou a Parada Gay de São Paulo, somos contra Kassab porque ele é gay, e é por isso que apoiamos o Alckmin”. Custo a crer que tenha sido essa a real motivação da entrada da Igreja naquela campanha eleitoral, mas era a versão corrente, solta e divulgada pela liderança de base, que deveria funcionar como multiplicadora de votos.
Andrea Matarazzo, ex-secretário da cultura afirma que Geraldo é Opus Dei |
Preconceitos à parte, pergunto-me sobre quais teriam sidos os interesses envolvidos para colocar a igreja naquela campanha eleitoral. Seguramente não foram razões de identidade cristã ministerial; Geraldo Alckmin não é evangélico, pelo que se sabe é católico e pelo que se diz teria vínculos como a Opus Dei, um grupo da extrema direita católica. Então, quais seriam as motivações do Bola de Neve em apoiá-lo? Recordo-me que na época a Igreja estava em vias de adquirir um galpão no bairro da Barra Funda para a construção de um novo templo, negócio que não se concretizou. Teria tal episódio alguma relação ao apoio a Alckmin? Estaria a IBN entrando no jogo de “troca-troca” com políticos, ou seja, trocando apoios em busca de favores ou facilidades? Se for, este jogo é muito perigoso, a IBN estaria incorrendo no mesmo erro da Igreja Renascer em Cristo que, no ano de 1998, emprestou seu apoio a Paulo Maluf, transformando seus templos em comitês de campanha. Com a derrota de Maluf, que na época concorria com o falecido Mario Covas, a igreja saiu politicamente desgastada e, principalmente, desmoralizada por ter apoiado um candidato reconhecidamente ficha suja.
No entanto a candidatura Alckmin foi derrotada, ficou com o pífio terceiro lugar, não contou sequer com apoio seu próprio partido que, agindo sob influencia do então governador José Serra, preferiu descarregar seus os votos em Gilberto Kassab que foi o eleito. O vereador lançado pelo ministério também não foi eleito e a derrota eleitoral de ambos, colocou em evidência a miopia dos “articuladores políticos” da Igreja.
Eleições Presidenciais de 2010.
Nas eleições de 2010 quando estavam em disputa cargos legislativos e os executivos dos Estados e Presidência da República, a ação política da Igreja Bola de Neve não foi tão diferente, mas contou com algumas agravantes.
Restringindo-me ao Estado de São Paulo que acompanhei mais de perto, constatei que a Igreja não lançou candidatos próprios a deputados, vindo a apoiar outros evangélicos. Ao senado apoiou Romeu Tuma do PTB, que foi derrotado vindo posteriormente a falecer. Ao governo do Estado novamente esteve com Alckmin que, dessa feita, foi eleito. Para Presidência da República apoiou José Serra, candidato que foi derrotado por Dilma Roussef.
Em 2010, o grau de envolvimento da Bola de Neve na campanha de José Serra foi mais profundo que na anterior. As lideranças de células chegaram a ser convocadas, reunidas e orientadas pelas instancias superiores para dela participarem. O preocupante foi o tom de campanha exteriorizada pelos fiéis da Igreja. Um tanto quanto extremado, ele dava voz ao discurso político do setor mais atrasado da candidatura Serra, ao ponto da Igreja participar na campanha de difusão de calunias e mentiras que visavam difamar a candidata opositora e atual Presidente da República Dilma Roussef. Para comprovar o que digo, tenho um E-Mail que foi distribuído por lideranças da Igreja, circulou por seus diversos ministérios, chegando inclusive a minha caixa de correio eletrônico. Trata-se de um texto que recomendava o voto a José Serra e era assinado pela Dra. Neuza Itioka. Nada demais se fosse apenas mais um SPAN eleitoral, no entanto após uma leitura mais atenta, verifiquei tratar-se de um panfleto de baixíssimo nível político, digno de qualquer grupelho extremista. Em tal panfleto (que tenho guardado para quem queira conferir) eram repetidas acusações já batidas, desmentidas e não provadas de supostos vínculos do PT com as FARC; contra Dilma ele literalmente afirmava que a candidata “... roubou, seqüestrou e matou o embaixador americano, nos anos 60”, inferia também que seu vice Michel Temer era “satanista”. O governo Lula era acusado de perseguir jornalistas, de seguir o modelo comunista de Cuba; o Plano Nacional de Direitos Humanos taxado de “absurdo”, e os diversos programas sociais (entre eles o Bolsa Família, que até Serra dizia apoiar) eram criticados porque supostamente estariam “criando a mentalidade de que é melhor viver sem trabalhar e depender do estado”, ou seja, de serem elementos de estímulo a vagabundagem.
O panfleto era de tão baixo nível que a Dra. Neuza Itioka tratou de negar sua autoria, fato que pode ser conferido em seu site http://www.agapereconciliacao.com.br/v3/artigo.asp?id=61 . Da mesma maneira, Daniel Mastral (que muitos fofoqueiros do meio Gospel afirmam ser filho do “satanista” Michel Temer) negou que tenha, a qualquer momento, feito publicamente tal afirmação, fato que também pode ser conferido em seu blog, visitando http://www.danielmastral.com.br/perguntas.htm .
Geraldo inaugura a nova sede da IBN |
Concluindo, volto a repetir que nada tenho contra um pastor, que na qualidade de cidadão tenha predileção por qualquer candidato a um cargo público. No entanto não considero ético um sacerdote utilizar-se de sua investidura pastoral para envolver a Igreja em aventuras políticas - de qualquer cor ou ideologia-que venham a transformar púlpitos em palanques, os meios de difusão e estruturas de evangelização da Igreja em comitês de campanha. Considero temeroso e reprovável que o povo de Deus seja tratado como massa de manobra, como parte de um curral eleitoral, de difusor de mentiras e calúnias.
Creio que a relação de obediência de um membro da Igreja a seu pastor não deve ser cega, ao contrário deve ser iluminada e condicionada pela observância da Palavra de Deus. Creio que qualquer tentativa humana de se obter a obediência cega, está muito distante do cristianismo, muito mais próxima de figuras deploráveis como Adolf Hitler e Joseph Stalin.
Como afirmou o editor deste Blog, Danilo Fernandes, se todos nós fossemos cegos na obediência a nossos líderes humanos, se tal coisa fosse um imperativo do cristianismo, certamente continuaríamos católicos porque não teria existido a figura de Martinho Lutero, o fundador do protestantismo.
Sérgio Dória Partamianmos enviou este artigo por e-mail
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