Por Maurício Zágari
“E ele
designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas,
e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra
do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos
alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus,e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de
Cristo. O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado
para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina
e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. Antes, seguindo a
verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo“.
(Efésios 4.11-15 -versão
NVI)
Confesso que tenho um apreço muito especial por essa passagem.
Pois ela toca num ponto fundamental da vida cristã: maturidade espiritual. Algo
que, para nossa tristeza, tem faltado em gigantesca escala na Igreja dos nossos
dias. As igrejas institucionais, as comunidades que detestam ser chamadas de
igrejas, os grupos domésticos e qualquer outra expressão de comunhão cristã no
Brasil de nossos dias têm estado lotadas de pessoas que professam a fé em
Cristo, comparecem aos cultos, andam com amigos cristãos…mas demonstram em seu
falar e em seu proceder uma imaturidade espiritual espantosa.
Frequente por um dia as redes sociais e você ficará pasmo. A
quantidade de irrelevância ou equívocos bíblicos que circula entre os cristãos
é enorme. Ligue a TV: os programas ditos “evangélicos” são assustadores. Pior:
aqueles que sentam-se para assistir engolem qualquer coisa que lhes é passada
pelos telepastores – de livros e DVDs a heresias. Converse numa pizza após o
culto com irmãos e verá que o conhecimento teológico ou da realidade da grande
maioria é raso: em geral estão por dentro dos escândalos que veem na TV e olhe
lá. Mas comece a falar sobre Bíblia e logo o assunto será conduzido para o
campeonato de futebol. A verdade, meu irmão, minha irmã, é que uma enorme parcela
da Igreja brasileira hoje está igualzinha a um barco numa tempestade, com seus
passageiros sendo “levados de um lado para outro pelas ondas”.
O hábito de estudar a Bíblia a sério minguou. Lê-se a Bíblia,
mas um versículo aqui, outro ali. A teologia dos cristãos é formada de tal modo
imaturo que faz de Jesus um grande monstro de Frankenstein: um braço formado
por uma pregação que se viu no Youtube, uma perna por tuítes de um
pastor-celebridade, o pescoço por um louvor antropocêntrico da moda, o tronco por
um texto que se leu num blog escrito sabe-se lá por quem, outro braço formado
por ensinamentos apócrifos desses DVDs que pregam vitória, um quadril de
conversas achistas em corredores de igrejas… enfim, na época da comida a quilo,
cada pessoa forma em sua mente um Jesus conforme melhor lhe apraz: um pouquinho
de cada coisa, que no final gera uma enorme mistureba sem identidade.
Afinal, dá menos trabalho isso do que cursar quatro anos de um
seminário, ler livros de teologia sérios, densos e muitas vezes parrudos,
participar de uma família de fé onde você será discipulado e acompanhado por um
pastor que vai te chamar para conversar (por zelo a tua alma) se você estiver
vivendo de modo antibíblico (e ninguém quer que se metam na sua vida, não é?).
E isso gera o quê? Bebês espirituais.
Pois crescer não é fácil. E, por se manter na infância
espiritual por anos e anos, às vezes décadas, legiões de cristãos estão caindo
em qualquer conto do vigário gospel. Acreditam em Teologia da Prosperidade,
Confissão Positiva, declaram, decretam, tomam posse, caem como bebês
cambaleantes que ainda não sabem andar direito na conversa de qualquer
espertalhão que lhes ofereça uma mandinga neopentecostal ou uma heresia poética
travestida de intelectualidade. Os crentes em Cristo estão sendo “jogados para
cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens
que induzem ao erro” e se lambuzam com isso.
Fico pasmo ao ver certos pastores-celebridades que pregam a
heresia de que Deus não controla as forças da natureza nem as tragédias da
humanidade e que chamam seus irmãos calvinistas de “malditos”… e que têm quase
30 mil seguidores no twitter! Meu Deus, quase 30 mil almas consumindo todo
aquele besteirol poético encharcado de ensinamentos antibíblicos e sendo
induzidas ao erro. Também há os que doam seu suado dinheirinho em troca de
“unções de x reais” e outras propostas diabólicas feitas por mais
pastores-celebridades…e acham que aquilo é sério! Mas, se formos pensar bem,
como não achariam? São imaturos espiritualmente. Não sabem que o simples fato
de um pastor ser americano e ter uma Bíblia sobre prosperidade financeira
publicada não faz dele um homem de Deus.
Pastores abolindo o dízimo, blogueiros anatemizando termos
corretos como “evangélico” e “religião”, teólogos do inferno atraindo cristãos
sem base bíblica com suas heresias…o negócio é sério. Amadurecimento espiritual
começa quando você descobre que aqueles pastores cuja pregação achava o máximo
são na verdade hereges. Pois mostra que seu conhecimento bíblico e sua
intimidade com Deus te elevaram a um patamar em que é capaz de discernir
“homens que induzem ao erro”.
Quando digo que o negócio é sério não estou brincando. Como
crianças, multidões de cristãos estão sendo levados de um lado para outro pelas
ondas, jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e
esperteza de homens que induzem ao erro. Do jeitinho que o apóstolo Paulo
falou. E qual é a consequência disso? Como diz o texto aos Efésios, os que
assim fazem não alcançam a unidade da fé e do conhecimento do Filho de
Deus, não seguem a verdade em amor e muito menos crescem em tudo naquele
que é a cabeça, Cristo. Em outras palavras, o imaturo espiritual torna-se um
zumbi que corre atrás do primeiro que aparece com uma fórmula mágica ou uma
teologia linda que fale de amor.
O resultado é uma igreja amorfa. Que segue não Jesus de Nazaré,
o Deus encarnado revelado pelas Escrituras, mas um ídolo com cara de monstro de
Frankenstein a quem chamam “jesus”. Mas que não tem as características do Jesus
da Bíblia. E isso é sério. Pois se a salvação vem pela fé no Jesus da Bíblia e
multidões estão seguindo um falso jesus… muitos não serão salvos e ao final
terão de enfrentar a morte espiritual. E dirão: “Senhor, Senhor, em teu nome
expulsamos demônios e…”.
Como se pode ver, maturidade espiritual é uma questão de vida ou
morte – eterna. Assim como crianças imaturas trepam em janelas correndo o risco
de despencar do décimo andar, cristãos imaturos seguem um cristo que não é o
Cristo. E com isso, o grande risco da imaturidade espiritual é a morte
espiritual. Não se deixe matar por imaturidade, meu irmão, minha irmã. É o
destino eterno da tua alma que está em jogo. Fuja dos famosos. Busque o
aprendizado. Corra das celebridades. Procure os anônimos e simples. Escape da
fé de pé de ouvido. Mergulhe no estudo das Escrituras. Em outras palavras: já é
hora de deixar para trás o leite e começar a comer um bom filé com salada. A
digestão no início pode ser difícil, mas quando se acostuma o fruto é um
entendimento e uma clareza numa antes obtidos e a vida eterna.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Fonte: Gospelmais
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