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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A Nova Cruzada dos Inocentes

Por: Diogo Henrique de Sá

              Eu comparo muitas Denominações Evangélicas com o Catolicismo Romano. Não veja muita diferença sabe? A idolatria é constante, não temos as “santos”, mas as “Arcas da Aliança”, os “Templos”, o culto a personalidade do líder, os lencinhos ungidos, os “óleos ungidos” (ainda vou aprender a receita para se ungir o óleo), ou seja, a idolatria é tão presente em nossas denominações como o é na Igreja Católica Romana. Temos os nossos líderes infalíveis, sob títulos como: Apóstolos, Pastores, Bispos, Arcanjos (é, tem esse também), e o Patriarca (o Paipóstolo), eles são verdadeiros Papas, uma vez que entre eles dizem e a Bíblia ficamos com aqueles. Temos a nossa também, que chamamos de experiência, que todos tem uma e, na prática, ela tem mais peso do que as Escrituras para muitos crentes. Por isso que acredito veementemente na necessidade de uma nova Reforma, que aniquile o denominacionalismo, tal qual o conhecemos hoje e nos leve a retornar ao Evangelho puro e simples.

             O obscurantismo em muitas denominações é comparável ao que a Igreja Católica adotou durante a Idade Média, ou, como preferirem, a Idade das Trevas. Temos os nossos dogmas, e questiona-los é motivo para excomunhão, e temos a nossa Cruzada. É sobre as Cruzadas que eu gostaria de falar, na verdade este artigo é sobre uma Cruzada [1] em especial: “A Cruzada dos Inocentes”.

             Em 1212, na Europa, aconteceu a Cruzada das Crianças, pois para justificar as derrotas anteriores, difundiu-se a lenda de que o Santo Sepulcro só poderia ser conquistado por crianças, pois estas estariam isentas de pecados. Sendo assim protegidas por Deus. É bem verdade que, nesta cruzada, muito do que é dito é lenda, além disso, existem vários relatos diferentes sobre ela.

             Porém, uma das versões relata que um pastorzinho chamado Estevão de Cloyes teve uma pretensa revelação onde o próprio Jesus o convocava a liderar um exército formado por “pessoas puras” até a Terra Santa. Milagres então foram atribuídos a esse garoto, causando um novo fervor religioso que se estendeu por toda a Europa.

             Milhares de crianças aderiram a causa, eles então marcharam até o Mediterrâneo, chegando lá Cloyes – a semelhança de Moisés – ordenou ao mar que lhes desse passagem (esperando que o mar se abrisse), como o milagre não aconteceu, muitas crianças se dispersaram, outras acabaram aceitando a oferta de mercadores que se ofereceram para levar os cruzados de navio para a Terra Santa. Os jovens que sobreviveram a viagem, entretanto, tornaram-se prisioneiros sendo vendidos como escravos aos árabes muçulmanos.

             Hoje tenho verificado que alguns pretensos cristãos estão embrenhados em uma nova cruzada dos inocentes, as crianças tem como armas em nossa guerra, afinal é assim que muitos encaram o reino, uma guerra Espiritual[2], onde Deus necessita de nossa ajuda para tomas posse da Terra, em estranho desacordo com as Escrituras que sem reservas declara: “Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” (Salmos 24:1), ou seja a Terra em sua plenitude já é de Deus. Ele não precisa de nós para nada. Mas muitos “crentes” preferem achar que Deus realmente precisa deles para possuir qualquer coisa.

              À muitas crianças, vem sendo atribuído um poder extraordinário, que tem atraído a atenção e a cobiça de diversos líderes, que sem o menor pudor, usam e abusam dos pobres e inocentes meninos em uma verdadeira “Pedofilia Espiritual” (como já foi dito por alguns), para promoverem seus “ministérios” e lucrar muito com a coisa toda.

              Torna-se cada dia mais comum ver pastorzinhos e missionariazinhas, obedecendo as orientações de seus pastores (que na maioria das vezes são os pais da criança) e colocando as mãos sobre enfermos para assim efetuar seus milagres. Focou comum também, ver crianças pregando em muitas igrejas, em um verdadeiro espetáculo de horrores onde meninos são manipulados e abusados para a euforia de uma platéia religiosamente doente.

              O esquema da certo porque ainda é muito forte a presença da religiosidade católica sincrética em nossa cultura. Dessa forma existem alguns resquícios daquele misticismo peculiar ao Catolicismo Romano, e como na verdade muitos dos “evangélicos” não são realmente Nascidos de Novo, esse tipo de aberração é reproduzida em muitas denominações ditas evangélicas. Pois na mente destes cristãos , Jesus realmente operará o milagre através daquele infante.

             Vamos só considerar um pouco sobre os pequenos pregadores. A mensagem do Evangelho é muito séria e complexa muita das vezes, existem trechos bíblicos de difícil interpretação que demandam horas de meditação na Palavra de Deus, para compreendê-los. Sem uma exegese e hermenêutica séria, podemos adulterar facilmente o real significado de muitas passagens. Como uma criança em formação intelectual pode interpretar aquele texto? Como ela poderia explicar ao ouvinte toda a seriedade do pecado? Com ela poderia ensinar sobre a morte e ressurreição de Cristo como uma única forma de redenção para o ser humano caído, se ela (a criança) não consegue compreender nada sobre o plano da Salvação? A noção que aquele menino(a) tem de Cristo é muito rasa. Como um bebê na Fé pode ensinar ou alimentar alguém se ele está totalmente incapacitado naquele momento. Não raro vemos a criança apenas reproduzindo aquilo que ela ouve dos pais ou de outra pessoa; não existe profundidade naquilo que a criança ensina, se alguém força-la a sair do roteiro, acabou, ela não consegue relacionar fatos, não consegue fazer associações, elas copiam tudo dos outros, inclusive as “línguas estranhas” por elas pronunciadas, afinal seu caráter ainda está em formação.

            Com relação aos milagres, é a mesma coisa. A criança não sabe se realmente tem o dom, a única coisa que ela sabe é que fizeram-na acreditar que possui, e as vezes a pessoa que disse é seu pai ou mãe, ou seja, alguém em que ela confia. Se o pai disse que ela tem poder, é porque deve ter. mas se observarmos essas crianças em ação, veremos que elas não tem a mínima noção do que estão fazendo, os pais ou pastores as instruem em tudo. Como proceder, como se comportar. Se assopra ou impõe as mãos. No espetáculo elas são apenas marionetes, controladas por pessoas com péssimas intenções.

           Outro problema com esse tipo de apelação espiritualista (ou seria capitalista), é que tudo isso prejudica não só o crente, que deposita suas esperanças na palavra de um líder eclesiástico que lhes promete algo que não pode cumprir, mas principalmente a própria criança, que não tem maturidade e formação cognitiva para compreender totalmente o que acontece a sua volta. A semelhança daquela Cruzada, essa história não termina bem. Eu já vi muito disso acontecer, e as conseqüências são terríveis. Quando a criança cresce descobre que ela não era nada daquilo que falavam e se frustra. Os colegas da escola não lhe darão a importância que ele julgava ter. E a fama cobra um preço alta, logo a criança não será mais tão inocente, e outro tomará o seu lugar. Além do mais, essas crianças via de regra nunca aprenderam nada sobre Jesus, somente decoraram aquilo que precisavam saber para se apresentarem nos Shows de auditório gospel. Assim o evangelho não se tornou vivo para elas. Quando não sentem mais as rédeas dos pais se perdem por completo. Não poucas vezes se enveredam por caminhos deveras tortuosos, se envolvendo com entorpecentes e todo o tipo de pecados.

          Sempre fui contra isso, criança precisa ser criança. Precisa brincar, jogar bola, brincar de boneca, de casinha, jogar vídeo game, enfim “fazer coisas de menino”. Precisa aprender também sobre Jesus de vagar, conforme a idade, a medida que o intelecto dela for se desenvolvendo, para que o Evangelho seja claro para ela. E no futuro, se for da vontade de Deus, então se tornar um pregador(a). foi essa escolha que eu fiz para meus filhos. Foi essa escolha que meus pais fizeram para mim. E sou muito grato a eles por isso. Hoje, pela Maravilhosa Graça de Deus, sou um pregador e professor, porque quando me tornei homem, aí sim, deixei as coisas de menino.

A Jesus seja a Glória!
Assista o vídeo abaixo




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Notas.
[1] – Cruzada é o nome dado ao movimento Bélico-Religioso ocorrido entre os séculos XI e XIII na Europa, que tinha por finalidade libertar a Terra Santa (Palestina) das mãos dos infiéis Muçulmanos. O movimento mexeu com o imaginário do homem europeu da época, que viram na Cruzada uma forma de alcançar o Reino dos Céus. Didaticamente nós dividimos estas expedições em “As Cruzadas” (plural), para tornar mais fácil estuda-la, mas a bem da verdade o correto é entender aquele fenômeno como um única Cruzada.

[2] – Não estou dizendo que não exista uma verdadeira Batalha Espiritual. Mas o verdadeiro Combate da Fé é combatido por nós diariamente, contra a tentação, contra o diabo e seus anjos que querem nos fazer parar em nossa caminhada Cristã.

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